Bio Nordestinagem | POESIA

Autor Carlos Silva - 4/29/2008





Quem sou eu, seu moço? 
Sou um turista forçado na bancada de um pau de arara, despejado por aqui há muitos anos atrás, quando o frio cortava feito navalha quem de muito longe trazia uma camisa "volta ao mundo" e um monte de sonhos perdidos num matulão improvisado amarrado com imbiras colhidas no serrado.
Quem sou eu, seu moço?
Um dormidor por sobre sacos de cimento, para fazer a tua luxuosa morada. Sou aquele que, com álcool numa espiriteira improvisada, aprontava a gororóba amarga e tão longe de ser considerada uma verdadeira refeição merecida, após um exaustivo dia de labuta em que a
sobremesa era uma banana mergulhada na farinha para dar maior sustento.
Sou um equilibrista nos andaimes da vida, lutando para o destino não me lançar ao chão da discriminação. Sou aquele que por descaso ou deboche, tu me chamavas de baiano, sem nem se quer saber a minha naturalidade.
De onde eu vim, tem mais oito estados empobrecidos (aos teus olhos) pela riqueza de quem tanto lhes exploram.
Sou aquele que construiu a tua casa, mas que hoje, nem na calçada atrevo-me pisar. Não posso queixar-me tanto, pois me lembro que Jesus, o santo filho de Deus, era carpinteiro e só pregava o amor e a bondade. Porém, numa cruz amadeirada pelo Homem, foi crucificado, humilhado e morto.
Mas doutor, em cada vão da tua casa tem um dedo meu, uma gota de suor caida num canto qualquer, uma lágrima que lavou minha saudade ao lembrar de quem bem longe um certo dia (carregado de ilusões) para traz deixei.
Eis-me aqui doutor, humilde, mas sem aceitar humilhação sua ou de qualquer um desses teus amigos que acham que cabras como eu nasceram apenas para te servir.
Trago orgulho da minha nordestinidade. Escrevo a minha nordestinografia como forma de brasilidade, pois toda nordestinologia hoje ensina a quem nunca se ligou para aprender o que é ser Brasileiro de fato.
O meu noderstinamento, doutor, é forte descrito por Euclides da Cunha, ao acompanhar de perto o massacre covarde de um povo. E devo lhe dizer: no mundo, não há nodersilógrafo mais inteligente que o matuto que planta, em terra dura, o sonho do seu próprio sustento, e que não está nem aí para o que o senhor pensa dele.

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