Autor Carlos Silva - 1/26/2021

 

ALEGRIA DE SERTANEJO, É VER SUA TERRA MOLHADA

A seca quando ela chega
O pasto fica doente
Na campina mal se enxerga
Os passos de um vivente
Bicho logo desaparece
A miséria aumenta e cresce
Faz sofrer a nossa gente

Agua não se acha amigo
Os tanques agonizaram
As nuvens do ceu sumiram
Os trovões já se calaram
Os raios á muitas luas
Deixou esperança nuas
Aguadas evaporaram

Leguas e léguas de tristeza
Angustias e desolação
Carros pipas abastecem
Mas é so perto de eleição
E o pobre meu bom senhor
Tem que provar que é votador
Daquela triste região

Patrão vira Coronel
E as vezes chamam de Doutor
Mas no fundo é um canalha
Do povo seu malfeitor
É puxa saco de deputado
Do prefeito é pau mandado
Corja de gente sem valor

Se aproveita da miséria
Da má sorte do miserável
Que depende de esmolas
Pra não ser tão vulnerável
Á morte e aos castigos
Das traições e perigos
Pelo patrão abominável

Juriti sumiu no campo
Bem-ti-vi la no cerrado
Não se ver se quer preá
Na macambira socado
Tudo muda no sertão
De tão seco que é o chão
Até viver é um pecado

Rezar prece e novenas
O povo vive a fazer
Pedindo ajuda do céu
Implorando pra chover
Mas pra testar a sua sorte
Provar que o sertanejo é forte
Isso custa acontecer

O dia já nasce torrando
Sem vento e só o calor
É o que se ver por aqui
Matando e trazendo horror
De se miséria e fome
O pobre que não tem nome
Sabe bem o peso da dor

Tomara que uma banda do céu
Despenque num aguaceiro
Faça encher os açudes
Barroca fonte e barreiro
Espero que chova um ano
Esse sim é o nosso plano
De setembro a fevereiro

Eu hei de ver a açudagem
Transbordando no sertão
Sangrando riachos grandes
Com a força de um tufão
Pra melhorar nossa vida
Trazer o riso e a comida
Pro povo do nosso torrão

Se São Pedro não abrir
As portas do céu pra chover
É melhor que tudo acabe
Antes do amanhecer
Será a melhor recompensa
Fome e seca é pior doença
Então é bem melhor morrer

Nem o 15 de Raquel
Conseguirá mudar o plano
Nem também a vida seca
Escrita por Graciliano
Será capaz de amenizar
A fome no meu lugar
Deste destino tirano

A prece do sertanejo
Como é de se conhecer
Não é pedir luxo nem nada
Ele só quer sobreviver
Quer jogar semente no chão
Ver sua farta plantação
Plantar, limpar e colher

Manda chuva meu bom Deus
Pra amenizar o sofrer
Desse povo que implora
Pelo teu santo poder
matuto só tem felicidade
Quando o tempo fecha de verdade
E despenca o céu a chover

Junto com essa seca leva
O tal do aproveitador
Que chega pra nos humilhar
Diz que tá fazendo favor
Mas tudo isso é cilada
A gente não vale nada
Sem o título de eleitor

Mas um dia eu acredito
Na enxurrada da mudança
Nos trovejos da nossa graça
Essa é a nossa esperança
Desde os tempos de menino
Nesse solo nordestino
Quem espera sempre alcança

Derrama meu pai derrama
Inunda o nosso sertão
Pra que a nossa safra seja
Fartura de milho e feijão
Alimenta o teu povo
Nos dá a graça de novo
De ver mudar a situação

E assim o sonho do sertanejo
Vai cumprindo sua missão
Rezando e fazendo prece
Com a fé que tem no coração
Sonhando acordado pedindo
E no seu Íntimo sentindo
QUE VAI CHOVER NO SERTÃO
CARLOS SILVA POETA CANTADOR

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