Cordel, Exploração sexual e trabalho Infantil

Autor Carlos Silva - 5/10/2018


LITERATURA DE CORDEL
Carlos Silva

EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRABALHO INFANTIL
Foto: Internet



O mundo é uma escola
De luta fé e esperança
De seres abençoados
Que tem muita temperança
Mas as vezes me entristeço
Sofro choro e padeço
Com o sofrer duma criança

Fora linda minha infância
Criado no interior
Vivendo de fantasias
Ali cercado de amor
Mamãe com carinho cuidava
A gente estudava e brincava
Pra no futuro ter valor

Nesse mundo acriançado
Eu cresci sendo feliz
Tomei banho de riacho
Muita peraltice eu fiz
Tive boa educação
Preparando-me então
Pra viver no meu país

Maus tratos eu não conhecia
Naquele tempo então
Dava gosto ser criança
Sonhando ser cidadão
De honra, paz e alegria
A vida assim prosseguia
Maldade se via não

Hoje vivo preocupado
Com que vejo em minha frente
Pessoas que se aproveitam
De uma vida inocente
Com ato descomunal
A exploração sexual
Destrói o adolescente





Forçam jovens ao trabalho
Ainda assim muito cedo
Os pequenos abandonam
Num instante seu brinquedo
E passam a trabalhar
Pois tem alguém a explorar
Mudando o seu enredo

Dois modos de exploração
Vale aqui registrar
O lado sexual
E o outro a forçar
Uma criança pequena
Gozando criancice plena
Ser forçada trabalhar

Esse país tem riqueza
Que o Homem nem descobriu
Vem um monte de canalha
Que nem sabe o que é brio
E por ai vão praticando
Aos poucos só aumentando
O Trabalho Infantil

Seja nos canaviais
Lavoura, mineração
Na colheita de sisal
Na extração de carvão
O pequenino trabalha
Um dia se quer não falha
Vivendo na exploração

Escola ainda é sonho
Tristes vivem a sonhar
Autoridades lutando
Diz que vão erradicar
Crianças vivem sofrendo
Lutando estão querendo
Ver este quadro mudar




Ásia, África vejam só
Como ainda predomina
O trabalho Infantil
Lá é uma triste rotina
Exploração declarada
Também foi impregnada
Na América Latina

Em 1805
Um menino deformado
Com apenas 15 anos
Já se via explorado
Eram 15 horas por dia
Por muito tempo sofria
E até ficou aleijado (fonte Cecip/Oit -1995)

Esse fato foi relatado
Numa grande comissão
Em Bradford, na Inglaterra
Todos prestaram atenção
Por muito tempo amigo
Permaneceu esse castigo
Em forma de escravidão

Alemanha, Bélgica, França,
Holanda e Portugal
Isso Século XIX
Se tocaram afinal
Surgem Leis de proteção
Mas a maldita exploração
É uma praga infernal

A raça humana destrói
O que nosso Deus criou
Liberdade é utopia
Sonho que alguém sonhou
A ganância só maltrata
Mutila quando não mata
E muita voz se calou




Nós mesmos somos culpados
Estamos em cima do muro
Cegos e até fingimos
Não enxergar no escuro
Mas a justiça não falha
E a criança que trabalha
Compromete seu futuro (Ações da Oit – 1995)

A primeira Lei Brasileira
De proteção Juvenil
Em 1891
Algo muda no Brasil
Começavam novos planos
E menores de 12 anos
Era de certo, infantil

Não podiam trabalhar
Ainda eram crianças
Em 1927
Acontecem outras mudanças
14 anos foi fixado
Para entrar no mercado
De trabalho com esperanças

Constituição de 1934
De 37 e 46
Seguiam as mesmas regras
Com um conjunto de Leis
Então 3 constituições
Abordaram essas questões
Muita coisa então se fez

Constituição de 67
Manteve a proibição
Da diferença salarial
Mais uma mudança então
Fixaram para 12 anos
Novos tempos outros planos
Naquele tempo em questão




Em 1987
O Governo federal
Instituía no país
Em caráter Nacional
O programa BOM MENINO
Pra melhorar o destino
Dos menores afinal

A jornada de trabalho
Fora então reduzida
Pra 4 horas diárias
Isso melhorou a lida
E sem haver empecilho
Com direito a BOLSA AUXILIO
Foi um avanço de vida

Constituição de 88
Foi um avanço geral
Decretos Leis portarias
Incisos e coisa e tal
Parágrafos Caputs e artigos
Mudando regimes antigos
Novos tempos afinal

Falamos ate aqui
Em 5 Constituições
No âmbito sócio-político
Abordando umas questões
Uma coisa vale dizer
Ainda ha muito por fazer
Pra exterminar as explorações

Toda causa tem efeito
Do jeito que a vida traça
Somos povos, somos gente
Grande mistura de raça
Alguns em berço de ouro
Outros que não tem tesouro
Dormem nos bancos da praça




No farol pedem esmolas
Fazendo malabarismo
Mudam sempre de endereços
Em viadutos faz turismo
La se vai uma criança
Perdida sem esperança
Lançando-se para o abismo

Por trás dela, infelizmente
Tem algum explorador
Que exige dos menores
Sem ter o menor temor
E rindo da impunidade
Espalham pela cidade
Uma onda de horror

Criança vitima do destino
Ou da tal sociedade
Vão conhecendo mentiras
Maus tratos deslealdade
Sem forças para sonhar
Logo começam roubar
Esta é a triste realidade

Nos campos escravizados
Por capataz e fazendeiro
Muitos deles nem conhecem
O valor que tem o dinheiro
“Se tentar fugir eu morro”
Pensar em pedir socorro
Será o grito derradeiro

7, 8, 9 ou 10
Menos ate que essa idade
Crianças são judiadas
Sentem o peso da maldade
Da miséria a ela imposta
E sem obter resposta
Sofrem toda crueldade




Outra exploração cruel
E este fato é real
Crianças são judiadas
Em ato sexual
Nas TVs a cada dia
Cresce a pedofilia
Conforme diz o jornal

Sendo menino sofre muito
Se menina sofre mais
Com 13 ou 14 anos
Mulher logo ela se faz
E em meio ao sofrimento
Surge o primeiro tormento
Que não esquecem jamais

Nas rodovias Brasileiras
Nas cidades ou sertões
O Quadro é alarmante
Que ferem os corações
Crianças estão parindo
Outras se prostituindo
Por falta de soluções

A UNICEF e a CONANDA
A PUC, a USP e outras mais
O ECA também contribui
Com atenções especiais
Lutando em prol da criança
Com vontade e esperança
Vencer estas guerras reais

Quantas coisas ocorreram
Ainda bem que acordaram
Aos poucos nossas crianças
Bom senso já encontraram
Aqui eu pude mostrar
Ao menos pra ilustrar
Fatos que já nos mostraram




O mundo corre perigo
Temos que ter muito cuidado
Onde estão os nossos filhos
E por onde tem andado
O trafico Internacional
Maltratos e coisa e tal
A vida tem nos mostrado

Usam as nossas crianças
Pra toda exploração
Sexo,drogas sempre tem
Uma criança em ação
Vendendo a sua vida
Perdendo a infância querida
Pra um explorador em questão

Disque 100 e denuncie
Qualquer irregularidade
Que por ventura você
Presenciar de verdade
Ajude nossas crianças
Viver e ter esperanças
Em nossa sociedade


CARLOS SILVA – POETA CANTADOR Poeta, cantor, compositor e pesquisador das tradições orais brasileiras. Carlos Silva é um expoente da cultura popular envolvido com a identidade do povo nordestino sertanejo. Através de oficinas para formação de professores o poeta sertanejo divulga a versação como possibilidade pedagógica e multiplica o alcance da poesia popular, tendo inúmeros textos utilizados em ambientes de ensino aprendizagem. Sua atuação artística e autoral carrega jeito simples e gestos nobres dos que entendem a Arte como inerente ao que é humano. Carlos Silva vem da tradição dos menestréis autodidatas que se atreveram ocupar os centros urbanos e impor sua Arte a todos que por eles passam sem, no entanto, perder a sertanidade anímica.
No alforje tem 4 cds gravados, dois livros de poesia, 40 livretos de cordéis de variados temas e documentário sobre Itamira, BA, cidade onde fora criado. Por conta de se fazer militante da cultura, foi escolhido Conselheiro Estadual de Cultura, da Bahia representando o Litoral Norte e Agreste Baiano. Atualmente, prepara novo CD onde abordará outras possíveis vertentes de sua criação artística.

E-mail cscantador@gmail.com -
Rua Nossa Senhora da Saúde, S/N – Bairro Pindobal - Cipó - Bahia
Contato (75) 99269 0497


SIGLAS PARA PESQUISAR:

OIT Organização Internacional do Trabalho
UNICEF Fundação das nações Unidas para a infância
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
PUC Pontifícia Universidade Católica
USP Universidade de São Paulo
CECIP Centro de Criação de Imagem Popular
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente





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